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'Diálogos Culturais' promove visibilidade à arte local

Assessoria, peças teatrais, oficinas, musicais, sarau, vídeos e exposições são alguns dos mecanismos utilizados pelo projeto

Oito artistas negros foram convidados pela Diálogos Culturais para um ensaio com o fotógrafo Rogerio Junior
Oito artistas negros foram convidados pela Diálogos Culturais para um ensaio com o fotógrafo Rogerio Junior -

Da Redação

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Assessoria, peças teatrais, oficinas, musicais, sarau, vídeos e exposições são alguns dos mecanismos utilizados pelo projeto

As histórias carregam e propagam os sentimentos de uma multidão de pessoas, cujas vozes foram silenciadas. Discutir o lugar do artista negro na sociedade é uma busca por coexistência, onde as diferenças não signifiquem desigualdades, tampouco suas histórias sejam objetos de estereótipos. 

A Diálogos Culturais tem reunido uma série de artistas para promover e dar visibilidade à Arte local através de assessoria, peças teatrais, oficinas, musicais, sarau, vídeos e exposições.  “Ao refletir sobre a Arte é importante ter um olhar étnico-racial com pensamentos antirracistas. É um dever dos não negros lutar contra as opressões e fazer uso do privilégio de seus espaços para ser um aliado, dando voz a grupos que não os têm”, afirma Zek Ramos, coordenador do projeto. 

A estética do belo na Arte foi construída num modelo branco e, na contemporaneidade, isto não deve ter espaço. “É fundamental reconhecer criticamente as subjetividades para uma transformação social, porque a arte não existe pela arte”, continua Ramos. 

Fundamentada nos conceitos de Djamila Ribeiro e Conceição Evaristo, a Diálogos Culturais convidou oito artistas negros para um ensaio com o fotógrafo Rogerio Junior. “É importante conhecer cada pessoa sem atribuir características que a precedem. Buscamos promover um momento em que todos pudessem expressar suas vivências para captar imagens que ilustrassem a personalidade de cada um”, conta.

As fotos ficarão disponíveis nas redes sociais do projeto e serão acompanhadas de relatos de experiências dos artistas na música, na dança, teatro, artesanato e literatura. O cantor e ator Luiz Oliveira diz que a Arte veio como revolução, transformação e transcendência. “É uma forma de expressar o que sinto. Tem gente querendo falar de engenharia, Artes, medicina... e amor. Muitos estão pensando nesta questão de discussão única, quando somos completamente heterogêneos”. O músico e compositor Fabrício Cunha acredita que esta expressão gera sensibilização. “A importância da Arte é a sensibilização do sentimento do ser e saber se colocar como pessoa na sociedade e, assim, aprender a ver o olhar sobre as coisas através do que ele faz”, completa.

Este olhar significa representatividade e inclusão, que devem estar presentes desde a infância, nos braços de uma criança, por exemplo. “Eu sou artesã e faço bonecas. Hoje me realizo fazendo este trabalho que encanta as crianças e os adultos”, afirma Rosemery Czelusniak. Revelar esta dicotomia expõe uma diversidade de sentimentos, como bravura e solidão. A poetisa Shirley Pinheiros dos Santos admite que a Arte veio como uma válvula de escape onde ela se fez percebida na sociedade como negra. “Até então sempre fui invisível perante os olhos das outras pessoas. Após a escrita me sinto reconhecida.” A cantora Letícia Carvalho Silva completa dizendo que a Arte é um refúgio para não enlouquecer. “Ao mesmo tempo em que me identifico com outras pessoas, encontro forças em mim e nas pessoas que cantam comigo”.

Ao pensar que 55,4% dos brasileiros se declaram pardos ou negros em pesquisa recente do IBGE, várias esferas sociais possuem pouquíssima presença de negros. O ballet, cuja maioria dos bailarinos pertence ao gênero feminino, branco e de classe média é um exemplo. Mostrar alguns casos que existem é, também, uma forma de resistência. A bailarina Ana Karina Cruz conta que nas situações e vivências que não sabia lidar, era a Dança que sempre a trazia de volta pra minha realidade. “Todas as minhas criações estão ligadas às minhas raízes, minha essência, naquilo que acredito e sou”. O mesmo aconteceu com a violinista Gisele Roube. “Comecei tocando piano, mas era um instrumento solitário e eu queria tocar em conjunto, numa orquestra. Então, aprendi violino. É transformador fazer musica em coletividade”, conta.

Pertencer a todos os espaços e se reconhecer como pessoa carrega um caráter de cura. É o que acredita o ator Mackaulen Tavares. “Eu acredito que a Arte tem o poder transformador e de cura. E é isto que eu quero levar através da minha Arte: levar cura às pessoas, da mesma forma que a Arte, um dia, me curou.” 

Sendo resistência, luta, identificação e cura, a Arte ajudou direta ou indiretamente na relação destes artistas com sua autoestima, no protagonismo de suas histórias e no poder da resiliência e dignidade. “A arte não é capaz de acabar com o preconceito e com o racismo, mas pode e deve contribuir para a inaceitação do ódio e na conscientização do legado africano em nossa História”, finaliza Zek Ramos. 

A Diálogos Culturais está disponível nas plataformas de rede social @dialogosculturais no Instragram e YouTube e na página Zek Diálogos Culturais no Facebook. O projeto é finalista do Prêmio ODS 2018, como uma das 05 principais ações do Paraná.

O que é lugar de fala e escrevivência? Entenda os conceitos:

No livro 'Quem tem medo do feminismo negro?' a filósofa Djamila Ribeiro aponta que “a arte não está descolada dos valores da cultura e tampouco é neutra”. Isto porque nada é isento de ideologia. Para ela “não é possível falar de politica, sociedade e arte sem falar de racismo e sexismo”. Não querer discutir estes temas revela uma sociedade imatura para o debate. 

Com base no conceito de Conceição Evaristo, a “escrevivência” nasce das experiências de vida que revelam a condição de afrodescendente no Brasil. As histórias carregam e propagam os sentimentos de uma multidão de pessoas, cujas vozes foram silenciadas. O discurso universal é excludente, o que também ocorre, infelizmente, na História da Arte.

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