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Coluna MSN: A importância do autoelogio

“Por que ninguém se vê como é?”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Sem nunca ter sido gordo, sempre teve cintura larga, que o tempo e a cerveja trataram de aumentar de maneira generosa. Por isso, evita ficar sem camisa ou usá-las muito apertadas. Qualquer toque de mão, mesmo que amoroso, nesta área o deixa constrangido, como se fosse o ato mais pornográfico que pudesse sofrer.

Não gosta da própria voz, por isso é um verdadeiro suplício ouvir-se, apesar de falar tanto, em tantos momentos e de forma tão inconsequente. Uma tortura enlouquecedora para ele seria passar horas e horas ouvindo gravações de sua incorrigível falação.

Suas mãos e seus pés são pequenos e o envergonham quando tem por exemplo que comprar sapatos (acaba pedindo uns dois números acima), ou ao cumprimentar pessoas que exibem mãozorras descomunais. Vê-se como o menino, intimidado pelos adultos, que nunca será aceito nas conversas mais sérias.

Com o tempo foi perdendo pelos em várias áreas do corpo, mas o que mais o constrange é ter ficado praticamente sem sobrancelhas, depois de uma crise crônica de dermatite. Seus óculos com aros grossos são para disfarçar um pouco a cara pelada.

Tem unhas, nos pés e nas mãos, desiguais, abauladas ou encravadas, e isso o deixa com uma infecção aqui ou ali. Como se não bastasse, rói as extremidades delas, causando ainda mais problemas de pele.

Para iludir um pouco o sobrepeso, usa roupas pretas e escuras, mas logo elas estão cobertas por células mortas, que ele libera como se fosse um pólen permanente. Dalton Trevisan falava da barata leprosa com caspa nas sobrancelhas. Bom que ele não tenha mesmo sobrancelhas.

Ainda produz espinhas às vésperas da terceira idade. E elas insistem em brotar em seu narigão de velho bruxo, que domina todas as fotos. Se corta o cabelo, e gosta dele curto, as orelhas crescem na mesma hora, para aumentar o seu aspecto desconjuntado.

Os pés são tortos, abertos, o que o obriga a andar como um pinguim precariamente bípede, longe dos de sua espécie.

Apesar destes e de tantos outros defeitos, encontrou quem o amasse ou ao menos o tolerasse, prova de que a humanidade não é assim tão perversa.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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