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Crônicas dos Campos Gerais: Dona Maria

O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes

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O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes -

Da Redação

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Dona Maria lavava roupa todo dia. Separada do marido por traição dele, abandonada, tinha muita história para contar. A mágoa, porém, se escondia no recôndito do seu peito e não se mostrava. Não tinha um túmulo para chorar a perda do marido, já que ele ainda vivia, e com outra.

Engolia o fel que a vida lhe reservara com a resignação de um desesperançado, daquele que sente o peso da vida a esmagar-lhe os sonhos. Ainda era jovem, mas as agruras que vivia haviam endurecido sua alma como pedra.

Três filhas para criar sozinha, esfregando roupas e como diarista em uma casa de família. Uma família de alemães com a qual aprendeu, entre outras coisas, a cozinhar e servir com refinamento, costumes europeus que levou para sua vida.

A menina do meio era a mais alta, subnutrida, pois necessitava de mais alimento do que havia na mesa. Empalidecia cada vez mais à medida que crescia, falta de ferro, anemia... Usava as roupas da irmã mais velha, quase não ganhava roupas novas.

A tarefa a ser executada pelas meninas enquanto Dona Maria estava no trabalho era deixar a casa limpa e arrumada. Não usavam cera no assoalho de madeira com tábuas largas, era caro. A casa era lavada com água e areia para retirar qualquer vestígio de sujeira que pudesse existir. Depois do banho, roupa limpa, esperavam a mãe na esquina e a viam surgir ao longe carregando sacolas com doações da patroa alemã, Frau Bergen.

Exausta do trabalho e com tantos problemas a minar-lhe os pensamentos, tornara-se amarga e não aceitava o carinho que as filhas, saudosas, queriam dar-lhe. Só perguntava se tomaram banho, se a casa estava limpa, se haviam deixado o fogo aceso pra fazer a janta...

A menina do meio sempre desejou comer maçãs, vermelhas, cheirosas, com aquele papel de seda roxo a protegê-las nos caixotes de madeira. Só sonho... não havia condições. As outras também tinham seus desejos não supridos pela condição social.

Já adolescentes, adveio a Segunda Guerra Mundial e a menina do meio, personalidade forte emergindo, queria seguir com as tropas atuando como enfermeira. Seu vizinho havia ido como soldado para o front, porém Dona Maria não permitiu.

Ao fim da guerra o belo rapaz moreno de olhos verdes voltou, aparentemente sem sequelas, e casou-se com aquela menina. Tranquilidade para a mãe cujo orgulho era dizer: Eu casei uma filha!  

Essa mulher forte existiu. Dona Maria era minha avó.

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa, produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).

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