Crônicas dos Campos Gerais: “Diálogos da Natureza” | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: “Diálogos da Natureza”

Texto de autoria de Rodrigo de Mello, Biólogo docente da UEPG

Rodrigo de Mello é biólogo licenciado e mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Rodrigo de Mello é biólogo licenciado e mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG). -

Da Redação

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Texto de autoria de Rodrigo de Mello, Biólogo docente da UEPG

Era um amanhecer que brotou de uma noite chuvosa. Entre negras nuvens que cavalgavam ventos que as dispersavam no horizonte, os raios do sol inundavam de luz a montanha onde se erigia uma imponente araucária. Em seu labor fotossintético, já devorava fótons que banhavam suas folhas enquanto era tocada pelas patas de aves e insetos. Ao sentir a gralha-azul à procura de seus frutos, lhe disse:

– Sê bem-vinda! Tu que aprecias meus frutos, sabes que eles, embora aqui no alto, provêm de minhas raízes, pois delas brota a força de meu ser.

– Bem sei que tudo está interligado – gralhou a gralha em seu galho. Apenas o inverno é a estação do meu alimento? Em verdade vos digo que o pinhão também existe na primavera, quando não é mais que seiva sonolenta pulsando e sonhando seus sonhos de fruto; no verão, surge em tenras pinhas; e no outono, se incha e se tinge com o ouro do sol e dos nutrientes da terra. Cada estação traz em si as outras três. A natureza é um só corpo. Comungai com a menor partícula dele e comungareis com o todo. O politeísmo sobre o sagrado é somente a epiderme de um unicismo profundo.

Uma formiga que marchava ali perto também se pronuncia:

– Quem dera que os humanos partilhassem de nossa sapiência. Me louvam em seu livro sagrado, mas rodopiam no vórtice de suas incoerências. Diz o provérbio deles para vir ter comigo, considerar meu proceder e aprender de mim a sabedoria. Quem reconhece sua pequenez é um gigante, mas eles ainda cultivam uma enorme corcunda por se curvarem sobre seus próprios umbigos.

Ao ouvir a sábia formiga, um vaga-lume que vagueava com seus lampejos luciferinos acrescenta:

– Como minha luz que nasce e morre a cada instante, tudo é uma pulsação de um dualismo binário. Dupla é a respiração de todo fenômeno. Cada unidade é uma balança entre dois extremos que se equilibra neste íntimo de contradição. Toda dualidade é prenha de mistérios e maravilhas. Esfregai vossos olhos e despertai, humanos!

No instante em que a parte escura do céu foi rasgada por um raio como uma cicatriz metálica e o som do trovão desabou como uma chicotada gigantesca, asseverou, por fim, a coruja:

– O antropocentrismo coroado pelo individualismo é um delírio pelo qual eles enxergam a realidade. Asfixiam-se no próprio ego e são devorados por suas mandíbulas famintas. Corre um boato nos Campos Gerais que uma pandemia surgiu para lhes mostrar que falharam em cuidar uns dos outros e em gerenciar a vida do planeta. Ó pobre Homo sapiens, pão e circo até quando? 

Texto elaborado no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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