Crônicas dos Campos Gerais: Faíscas no asfalto | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: Faíscas no asfalto

Crônicas dos Campos Gerais: Faíscas no asfalto

Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira, escrito no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira, escrito no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais -

Da Redação

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Crônicas dos Campos Gerais: Faíscas no asfalto

Nos anos 1970 as ruas da cidade começaram a ser pavimentadas com asfalto. A maioria delas tinha paralelepípedos e algumas só leito natural com uma camada de cascalho. Antes dos paralelepípedos e do asfalto, a rua principal também tinha o leito natural e, em dias de chuva, formava-se lama. Em períodos de seca, a poeira era constante. Nestes casos, o caminhão-pipa da prefeitura molhava a rua para evitar que o pó levantasse e invadisse casas, lojas e outros espaços. 

Durante as obras de pavimentação, uma das ruas transformou-se em parque de diversões. Quando a noite começava, máquinas e homens saíam e a rua, fechada para veículos, recebia dezenas de meninos e seus carrinhos de rolimã. Em aproximadamente 600 metros, carrinhos de todos os tipos e tamanhos desciam em uma corrida cheia de emoções. As faíscas do atrito das rodinhas contra o asfalto chegavam a compensar a tímida iluminação, entre gritos de comemoração dos vencedores e as lamentações dos que não conseguiam cruzar a linha de chegada à frente dos demais. Na parte alta da rua, onde era dada a largada, os gritos ecoavam, perguntando: “Quem ganhou?”. 

Improvisados “mecânicos” ajustavam seus bólidos, apertando parafusos e porcas, lubrificando partes móveis e rolamentos com óleo para máquina de costura, um item que todos tinham em casa, pois as mães dispunham de uma máquina para confeccionar roupas para a família e fazer reparos nas calças de brim, rasgadas em pontos estratégicos devido ao futebol, brincadeiras e corridas de carrinhos de rolimã. 

Ninguém pensava em equipamentos de segurança, como capacetes, e, vez por outra, dos cortes e escoriações jorrava sangue, devidamente estancado com as sujas estopas usadas para absorver o excesso de óleo aplicado nos rolimãs. Importante era não perder a vez da descida, arrojadamente buscando a vitória, mesmo que não representasse prêmio, pódio ou beijo da namorada.

Tempos depois, pavimentação concluída e a rua aberta para a passagem de veículos. Terminou a movimentação de carrinhos de rolimã descendo a faiscar no asfalto e subindo, carregados por seus pilotos, até o ponto de partida para nova largada. 

Hoje, nas mágicas horas de início da noite, passo por ali e ouço o ruído ensandecido das rodinhas a ganhar velocidade na descida, vejo o clarão das faíscas ─ mesmo que sejam lágrimas teimosas atingidas pela luz das lâmpadas de LED. Porém, quando chego ao ponto mais baixo da rua, onde as corridas terminavam, olho para trás e consigo escutar: “Quem ganhou?”.

Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira, escrito no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).

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