Coluna Fragmentos: Novos Tempos: O JM e João Vargas de Oliveira | aRede
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Coluna Fragmentos: Novos Tempos: O JM e João Vargas de Oliveira

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Artigo de primeira página do JM em 16 de agosto de 1964. Nele, o então Deputado João Vargas de Oliveira pronuncia-se contra os reajustes de tarifa implementados pela Cia. Prada de Eletricidade
Artigo de primeira página do JM em 16 de agosto de 1964. Nele, o então Deputado João Vargas de Oliveira pronuncia-se contra os reajustes de tarifa implementados pela Cia. Prada de Eletricidade -

João Gabriel Vieira

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Anthony Garotinho; Luiz Carlos Alborgueti, Marcelo Rangel, Jocelito Canto, Carlos Simões, Rogério Serman, Antonio Brito. Pense rapidamente: o que há de comum entre esses políticos pertencentes a diferentes partidos e defensores de bandeiras distintas? Os mais atentos logo perceberão que todos eles emergiram para a cena política a partir da vinculação com órgãos de comunicação e que construíram suas imagens a partir desses.

Até aqui nenhuma novidade! Porém, enganam-se aqueles que imaginam que esse é um fenômeno recente na história política do país. Ponta Grossa está ai para nos provar o contrário.

Na década de 1930, José Hoffmann deu seus primeiros passos como jornalista e político. Pouco depois, em 1954, foi Petrônio Fernal, então Prefeito de Ponta Grossa, que fundou o Jornal da Manhã e utilizou-o para responder aos seus opositores, transformando o veículo em uma trincheira para defesa de seu mandato.

Oito anos depois da criação do JM, Fernal vendeu o jornal para outro renomado político local: João Vargas de Oliveira, um bem sucedido empresário ponta-grossense que teve grande influência na política princesina de meados do século passado.

João Vargas nasceu em Ponta Grossa no ano de 1908. Quando adquiriu o JM já havia sido prefeito de Ponta Grossa no final da década de 1940 (1947), mantendo-se ininterruptamente na vida pública desde então, até a década de 1970. Do seu currículo político constam ainda o cargo de Secretário Estadual de Negócios da Agricultura e de Deputado Estadual e Federal.

Bacharel em Direito – graduou-se em 1951 pela Faculdade de Direito de Curitiba – João Vargas de Oliveira foi um articulador político de grande habilidade e, em 1962, momento de tensionamento social e político que resultaria no golpe milita de 31 de março de 1964, comprou o jornal criado por Petrônio Fernal, utilizando-o como porta voz de suas propostas nas eleições legislativas daquele ano.

João Vargas de Oliveira manteve-se por 5 anos na direção do jornal, vendendo-o, em 1967, para o empresário Wallace Pina. Nesse espaço de tempo, ajudou a consolidar a marca do JM perante a opinião pública local.

Assim como todos os órgãos de imprensa no país, o JM também sentiu na pele os efeitos da vigilância e da censura da ditadura militar. É certo que os chamados “anos de chumbo” situam-se no final dos anos 60, mais precisamente a partir de 1968, momento em que o JM não mais pertencia a João Vargas. Contudo, seria ingenuidade imaginar que um regime marcado pelo arbítrio e pelo controle da informação somente iniciasse uma prática de censura efetiva anos após sua criação.

Desta forma, pode-se deduzir que o período em que o JM pertenceu à João Vargas foi marcado pelas limitações impostas aos veículos de comunicação de massas em todo pais.

Nesse período, são encontradas inúmeras matérias que fazem menção ao trabalho de João Vargas como Deputado Estadual. Posicionamentos, defesas de idéias ou projetos, como o exposto na matéria de capa do JM em 16 de agosto de 1964, na qual o Deputado João Vargas de Oliveira torna público seu posicionamento contra a proposta da Cia. Prada de Eletricidade (responsável pelo abastecimento de energia elétrica em Ponta Grossa) de aumento dos valores sobre a taxa de iluminação, e na qual é possível ler que o Deputado se dizia desolado com a notícia de que a famigerada Companhia Prada de Eletricidade, abusiva e criminosamente fez excessivo aumento nas contas de consumo de luz do último período.

Este artigo é apenas um dos inúmeros publicados pelo JM entre 1962 e 1967, nos quais aparece com destaque a figura do político que dirigiu os destinos do jornal no período. Mesmo após a venda do jornal, Vargas continuou aparecendo com destaque nas páginas do JM.

Desta forma, João Vargas de Oliveira também se encaixa no grupo dos políticos que fizeram uso sistemático de um veículo de comunicação para consolidar seu nome junto ao imaginário coletivo e ao eleitoral ponta-grossense e paranaense de modo geral. Como é possível testemunhar, este fenômeno, iniciado em nossa cidade nos anos 30, ainda tem força suficiente para definir o tabuleiro do jogo político princesino.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 16 de setembro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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