Coluna Fragmentos: Padrões de consumo | aRede
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Coluna Fragmentos: Padrões de consumo

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

No dia 4 de dezembro de 1955 o JM publica anúncio das lojas Hermes Macedo
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João Gabriel Vieira

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O simples hábito de chegar em casa e acender a luz é, em nosso cotidiano, tão naturalizado que dificilmente paramos a pensar que nem sempre foi assim e que a luz elétrica e seus derivados não são tão antigos. Basta perguntar à uma pessoa com uma certa idade e ela possivelmente afirmará que, ao menos, conheceu alguém que não possuía luz elétrica em casa nos seus tempos de infância.

O advento da luz elétrica, da qual hoje dependemos assustadoramente, se deu no interior de complexas e grandiosas mudanças que alteraram profundamente os modos de vida e de significar o mundo, acontecidas entre o final do século XIX e durante a primeira metade do XX.

O historiador Nicolau Sevcenko analisou a importância da Revolução Científico-Tecnológica, ocorrida na Europa oitocentista para este contexto de mudanças, e que significou um enorme salto qualitativo e quantitativo no que concerne aos processos produtivos industriais. Exemplos de suas produções e descobertas são os carros, os aviões, a televisão e o cinema, a microbiologia e a bacteriologia, a iluminação elétrica, etc.

Essas mudanças ocorrerem internacionalmente, atingindo todo o mundo, devido a uma economia capitalista globalizada. Cada país, entretanto, vivenciou de maneiras diferenciadas este contexto, que atingiu também os modos de percepção e organização tradicionais.

No Brasil, desde início do século XX, com a instauração da República e de seu ideário de ordem e progresso houve uma política nacional com o intuito de inserir o país nesse molde de civilização. Porém, foi a partir dos anos 50, com a instalação e solidificação de indústrias como as siderúrgicas, as petroquímicas e as hidrelétricas que incorporamos os padrões de consumo dos países desenvolvidos.

Inúmeros foram os utensílios e produtos que passaram a fazer parte da sociedade neste momento. O chuveiro e o ferro elétricos, o fogão a gás no lugar do fogão a lenha, a máquina de lavar roupa e o aspirador de pó, a televisão, os enlatados e uma vasta gama de produtos alimentícios industrializados que passaram a preencher as prateleiras dos mercados, os produtos de beleza e de higiene que se tornaram cada vez mais acessíveis e tantos outros.

A publicidade também foi alterada. Agora era necessário convencer a população de que todos estes produtos eram realmente necessários e em como eles facilitariam e melhorariam suas vidas. Os anúncios tomaram conta dos jornais. Revistas coloridas passaram a circular, como as de moda e comportamento destinadas às mulheres. Promoções, liquidações e prazos nunca foram antes tão anunciados.  Lojas, grandes centros comerciais e mercados de grande porte começavam a abrir em todas as cidades brasileiras. 

A inserção de tais produtos na vida cotidiana das pessoas alterou significativamente seus hábitos e modos de vida. Desde seu comportamento até sua alimentação e vestimenta. As roupas não eram mais mandadas fazer e sim compradas em lojas especializadas, as mulheres trocaram a saia e os homens as calças de tecido pelo jeans, as refeições passaram a ser preparadas com maior rapidez, os utensílios domésticos, teoricamente, auxiliavam a vida da dona de casa, os remédios e as vacinas passaram a prevenir e acabar com doenças até então incuráveis. 

Tais mudanças, apesar de facilitaram e melhorarem imensamente nossas vidas, a ponto de não mais nos imaginarmos sem elas, nos inseriram em um ritmo cada vez mais perturbador e cronometrado. É possível afirmar que as relações sociais e seus desdobramentos foram seriamente comprometidos, tornando-se muitas vezes superficiais e artificiais.

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A vida no campo

Na década de 50, a maioria da população brasileira ainda vivia no campo, caracterizando-se como pequenos proprietários ou, na maior parte das vezes, como trabalhadores assalariados dos grandes proprietários. Estes eram vistos pelos moradores das cidades e até pelo próprio governo, como jecas, caipiras e atrasados. Os habitantes da cidade julgavam sua modernidade superior. A vida urbana era vista como uma possibilidade de progresso e de melhores oportunidades, o que gerou, juntamente com vários outros fatores, a migração para as cidades. Hoje se sabe que a cidade e a vida urbana não significaram automaticamente melhores condições de oportunidade e de vida, e que talvez essa ideia de que nela todos teriam condições de prosperar e partilhar da modernidade tenham sido, conforme concluíram os historiadores João Manuel Cardoso de Mello e Fernando Novais, uma ilusão muito bem criada pelo sistema capitalista.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 21 de novembro de 2010.

Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.

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