Coluna Fragmentos: O circo e sua expressão cultural | aRede
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Coluna Fragmentos: O circo e sua expressão cultural

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

No dia 30 de março de 1968 o JM publicou anúncio sobre a chegada do Gran Circo Continental em Ponta Grossa
No dia 30 de março de 1968 o JM publicou anúncio sobre a chegada do Gran Circo Continental em Ponta Grossa -

João Gabriel Vieira

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É possível afirmar que o circo, enquanto prática e expressão cultural e artística, se encontra arraigado nas mais diversas sociedades de maneira bastante profunda. Para que tal afirmação se confirme, basta perguntar as crianças sobre a magia que o circo representa à elas e aos adultos sobre suas lembranças de infância ou sobre as sensações que as atrações circenses lhes causam.

Estabelecer com precisão uma data e um local de origem para o circo é uma tarefa muito difícil, já que sua presença pode ser observada nas mais diferentes épocas e culturas. Na China Antiga, há 5 mil anos atrás, os treinamentos dos guerreiros envolviam acrobacias, contorcionismos e equilibrismos. A prática adquiriu tanta graça e beleza que todo ano, na festa da Primeira Lua, apresentações envolvendo estas modalidades eram realizadas.

Nas pirâmides do antigo Egito são encontradas pinturas de malabaristas e de domadores que apresentavam animais ferozes e exóticos durante os desfiles do faraó. Na Índia, as manifestações sagradas envolviam e ainda envolvem contorcionismos e saltos. Na Grécia estas eram também uma modalidade olímpica. 

Em Roma, no famoso Coliseu as habilidades circenses uniram-se ao exótico e ao pitoresco. O desconhecido, o diferente, animais de outras regiões e homens capazes de engolir fogo ou realizar peripécias com o corpo eram exibidos a fim de divertir a população e de conformá-la com sua “normalidade” e “superioridade”, atributos valorizados pelos romanos.

A maioria dos historiadores concorda que o circo moderno (que reúne dentro de um espaço circular cercado por lonas os mais diversos tipos de atrações) foi criado pelo cavaleiro inglês Philip Asley, no final do século XVIII.

Com o passar do tempo, os artistas de circo foram reconhecidos pela vida nômade que levavam. Para a pesquisadora Regina Horta Duarte estas pessoas eram vistas como vagabundas, já que deixavam sinais de destruição e abandono por onde passavam, instaurando desejos de fuga e oferecendo caminhos e possibilidades imprevisíveis e perigosas. Assim, durante os Oitocentos e os Novecentos o circo foi considerado um lugar propício ao desregramento dos costumes, ao riso e aos atos incivilizados.

No Brasil, há registros que comprovam a presença de circos desde meados do século XIX. Este chegou em nosso país através de famílias européias, principalmente dos ciganos, que fugiam de perseguições em seus países de origem. Aqui, as características típicas do espetáculo mesclaram-se com a cultura típica de cada local, dando origem a apresentações únicas e peculiares.

Uma das características mais valorizadas e importantes para os artistas circenses é a tradição e a instituição familiar, já que a transmissão dos saberes e das práticas se dá de pais para filhos, de gerações para gerações, através da cultura oral.

Atualmente convivem dois tipos de circos. Os denominados tradicionais que ainda percorrem várias cidades, com famílias de artistas e espetáculos influenciados pelos mais velhos ou mais experientes, e as grandes companhias, que através da sistematização das técnicas e de tecnologia criam grandes shows, como o Cirque du Soleil, por exemplo.

Independente de suas variações, o circo constitui uma grande festa, que segundo a historiadora Mary Del Priore representa também fatos políticos, religiosos ou simbólicos. Os jogos, as danças, as músicas e neste caso o circo não só significam descanso, prazeres e alegrias; mas também permitem às crianças, aos jovens, aos expectadores e atores introjetar valores e normas da vida coletiva, partilhar sentimentos coletivos e conhecimentos comunitários. 

A arte, em toda a sua abrangência, a literatura, a dança, o esporte, a pintura, o cinema, o teatro, e também o circo são provas de que apenas a vida não basta.

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O circo e os animais

Desde sua estruturação o circo utilizou animais em suas apresentações. Estes iam desde os cavalos e elefantes adestrados, pombos usados em números mágicos, até animais ferozes como leões e ursos para amedrontar e impressionar o público. Infelizmente, devido a condição precária da maioria dos circos, estes animais passavam por situações não adequadas e acabavam sofrendo, adoecendo ou morrendo. Alguns circos alegavam manter os animais em boas condições, entretanto sabe-se que apesar de todo o esforço em bem cuidá-los, este não é o lugar indicado para animais, que devem viver em seus habitats naturais ou sob o cuidado de órgãos especializados.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 06 de fevereiro de 2011.

Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora, doutora em história pela UFPR e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.

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