Coluna Fragmentos: Os médicos e a educação em Ponta Grossa | aRede
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Coluna Fragmentos: Os médicos e a educação em Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

O JM do dia 11 de janeiro de 1957 publicou uma matéria na qual um leitor dirigiu-se publicamente ao diretor da FAFI por discordar da nota recebida em uma avaliação
O JM do dia 11 de janeiro de 1957 publicou uma matéria na qual um leitor dirigiu-se publicamente ao diretor da FAFI por discordar da nota recebida em uma avaliação -

João Gabriel Vieira

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Criada a partir de um decreto estadual no dia 8 de novembro de 1949, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa se constituiu na primeira instituição de ensino superior oficializada de nossa cidade. Antes dela, é certo, funcionou por aqui a Faculdade de Farmácia e Odontologia (inaugurada em 1937 e fechada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública antes da formatura da sua primeira turma). Após a criação FAFI surgiram outras Faculdades que, em 1969, foram unificadas dando origem a Universidade Estadual de Ponta Grossa. 

Composta por quatro licenciaturas (História, Geografia, Letras e Matemática), a Faculdade de Filosofia contou em seu quadro inicial de professores com 27 docentes entre os quais estavam 3 médicos, 5 advogados e 6 engenheiros, ou seja, mais da metade do corpo docente. Apenas uma professora – Josefina Ribas Milléo – era licenciada em História e Geografia pela Universidade Federal do Paraná. O cargo de primeiro diretor da FAFI foi coincidentemente entregue a um médico: Dr. Joaquim de Paula Xavier. 

Mas como entender que eu uma Faculdade onde predominavam os cursos na área das humanidades a maioria dos docentes vinham da medicina, da engenharia e do direito? Para compreender tal fenômeno é preciso recuperar duas dimensões: a primeira voltada para a sociologia das profissões no Brasil e a segunda relacionada ao conceito do intelectual polivalente. 

Em “As profissões imperiais: Medicina, engenharia e advocacia no Rio de Janeiro 1822 – 1930” (Ed. Record, 1999), Edmundo Campos Coelho afirma que estes três grupos profissionais gozaram de extremo prestígio no Brasil dos séculos XIX e XX (sobretudo até a sua primeira metade), o que garantiu aos seus membros extrapolarem os limites de suas formações específicas e exercerem outras atividades profissionais, sobretudo aquelas vinculadas a educação. É necessário destacar que as únicas faculdades existentes no Brasil no século XIX eram justamente aquelas que formavam médicos, advogados e engenheiros, inexistindo naquele período instituições que qualificassem profissionais específicos, por exemplo, para o campo da educação. 

Tal realidade possibilitou àqueles que possuíam um certificado acadêmico um grau de distinção social e profissional considerável. Tardiamente foram surgindo no país as faculdades destinadas a outras formações, mas tal fato não retirou daquele grupo seleto a condição de “doutores” capazes de dominar não apenas o seu campo específico de formação como de atuarem em outras áreas como, por exemplo, a docência (em todos os seus níveis). Na história da educação ponta-grossense é fácil evidenciar tal tendência até, pelo menos, os meados do século passado. 

Além dessa presença maciça de tais profissionais na FAFI, as escolas locais contaram com um grande número de médicos entre seus professores, como, por exemplo, os casos dos drs. Bady Nasser, José Pinto Rosas, Penteado de Almeida, Haroldo Beltrão e Clyceu Macedo. Entre o rol de disciplinas ministradas por eles figuram a história, a geografia, a física, a química, o latim, a corografia, a cosmologia e a história natural, entre outras. Mesmo com o avanço dos cursos superiores voltados propriamente para a formação de profissionais para o magistério, muitos desses médicos foram mantidos e considerados catedráticos em áreas nas quais não tinham formação superior específica. Nesse sentido, os médicos (assim como os advogados e engenheiros) se enquadram no conceito de intelectuais polivalentes, ou seja, profissionais com uma formação específica mas que são socialmente reconhecidos, respeitados e legitimados por sua atuação para além de suas profissões de origem.

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O Diretor

Joaquim de Paula Xavier Natural de Ponta Grossa, era filho do Dr. Joaquim de Paula Xavier, médico que faleceu pouco antes do seu nascimento (1903) e de quem herdou o nome. Graduou-se em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, especializando-se, logo em seguida, em otorrinolaringologia. Atuou como médico na Santa Casa e no Hospital 26 de Outubro. Foi um dos fundadores do Centro Cultural Euclides da Cunha e teve atuação destacada para a abertura da Faculdade de Farmácia e Odontologia e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, sendo professor em ambas as instituições, diretor da FAFI e homenageado pelos estudantes desta como patrono do seu diretório acadêmico. Faleceu em 1956.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 03 de abril de 2011.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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