Coluna Fragmentos: Cícero Marques, REAL Aerovias e os céus de Ponta Grossa | aRede
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Coluna Fragmentos: Cícero Marques, REAL Aerovias e os céus de Ponta Grossa

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Publicidade da Real Aerovias, uma das empresas brasileiras que atendiam o Paraná em meados do século XX. Publicada no JM de 03 de janeiro de 1958
Publicidade da Real Aerovias, uma das empresas brasileiras que atendiam o Paraná em meados do século XX. Publicada no JM de 03 de janeiro de 1958 -

João Gabriel Vieira

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No conjunto de milhares de imagens que compõem o rico acervo do Fundo Foto Bianchi (algo em torno de 40 mil negativos em vidro e celulose, fotografia e cadernos de registro que se encontra sob a guarda da Casa da Memória Paraná), existe um incontável número de registros fotográficos que mostram o cotidiano de Ponta Grossa nas décadas iniciais do século XX.

Luiz Bianchi, o primeiro fotógrafo da família que se tornou tradicional no ramo da produção de imagens em nossa cidade, registrou e revelou milhares de cenas públicas em Ponta Grossa nas primeiras décadas dos Novecentos: o movimento de pessoas pelas ruas, os rituais e as festividades religiosas, os blocos de carnaval, as práticas esportivas e de lazer, o tráfego de trens, as jovens senhoras passeando, etc.. Nesse conjunto de fotos, uma sequência chama a atenção: o sobrevoo, em 1914, do avião pilotado pelo aviador Cícero Marques nos céus de Ponta Grossa e, depois, seu pouso no Jockey Club. Além das imagens registrarem a admiração e euforia do público que acompanhou as escaramuças aéreas, elas correspondem ao primeiro registro imagético de um avião nos céus ponta-grossenses.

É certo que poucos anos depois, em 1916, Santos Dumont passou rapidamente por nossa cidade, mas esse episódio folclórico não tem nenhuma relação com algum projeto que envolvesse a aviação ou mesmo que fosse um desejo do “pai da aviação”. Naqueles tempos, passar por Ponta Grossa era obrigatório para quem percorria o interior paranaense e se dirigia para outros centros como Curitiba, São Paulo ou Rio de Janeiro. A ironia está aí, Santos Dumont, o criador do 14 BIS só esteve, de passagem, em Ponta Grossa por conta da condição de centro ferroviário de nossa cidade.

Pouco depois, em 1922, os empresários locais fundaram o Centro Commercio e Indústria (atual ACIPG) e, desde suas primeiras reuniões se preocuparam com as condições e estrutura do transporte de pessoas, cargas e produtos, pleiteando aos governos local, estadual e federal, melhores condições das rodovias e, notadamente, das ferrovias. Naquele início de século, falar em uma rota de aviação comercial beirava à ficção científica, quase como mergulhar nas 20 mil léguas submarinas de Verne!

Foi somente em 1949, já em outro contexto histórico e tecnológico, que Ponta Grossa passou a contar com uma pista de terra para pouso e decolagem de aviões, sendo que apenas em 1963 o “Aeroporto Sant´Ana” como foi inicialmente batizado passou a contar com voos comerciais regulares da REAL Aerovias.

Fundada em 1945, no imediato pós-guerra, a REAL inicialmente realizou voos entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em razão do sucesso comercial, seus proprietários adquiriram mais de cem aeronaves e a empresa abriu novas rotas regulares, incluindo aí o Paraná. Na década de 1960, a REAL foi comprada pela VARIG, uma das gigantes da aviação brasileira daquele período.

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Um suicida em prestações

Cícero Arsênio de Souza Marques (1887/1975), foi um dos pioneiros da aviação brasileira. De acordo com os registros oficiais, foi o segundo brasileiro a ser brevetado (o primeiro foi Edu Chaves), obtendo o diploma pela Escola de Bleriot, na comuna parisiense de Étampes. Ao retornar ao Brasil, apresentou-se em diversas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, sofrendo acidentes em muitos desses lugares e, por conta disso, cunhou a frase: “O aviador é um suicida em prestação!. Em Curitiba, por exemplo, ao quebrar uma das hélices do seu avião Bleriot em um pouso mal sucedido, foi socorrido por Floriano Essenfelder, que conseguiu reproduzir a peça em sua famosa fábrica de pianos. Em 1918, após sofrer um acidente no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, Cícero Marques abandonou definitivamente a aviação.

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Chegou a cavalo, partiu de trem...

Em 1916 ocorreu a Primeira Conferência de Aeronáutica Pan-Americana, em Santiago, no Chile. Entre os participantes do evento estava Santos Dumont, um dos precursores da aviação mundial. De lá o brasileiro viajou para Buenos Aires e, por via fluvial, chegou nas Cataratas do Iguaçu. Admirado pela beleza natural e preocupado com a possível cessão da área das Cataratas para um particular, Dumont decidiu partir para Curitiba e procurar Affonso Camargo, então presidente da província do Paraná. A cavalo dirigiu-se até Guarapuava e, de lá, passou por Ponta Grossa, onde embarcou em um trem e seguiu para a capital paranaense. Após conversar com Camargo, pedir que este criasse um parque para proteger as quedas e ter esse compromisso assumido pelo político, pelos trilhos de trem, regressou ao Rio de Janeiro.

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Conteúdo inédito.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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