Sincronicidade II | aRede
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Sincronicidade II

Paulo Coelho

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Já publiquei aqui vários textos sobre as chamadas “coincidências”. Foi impressionante o número de e-mails e cartas de leitores, contando suas próprias experiências – tenho material para escrever várias colunas sobre o tema. Li também um artigo simpático de Sebastião Nery em outro jornal, que chamava educadamente minha atenção para o fato de que a palavra “sincronicidade” (título da coluna) não existe em português, e devemos utilizar “sincronia”. Ele tem razão; mas como “sincronia” me parece uma palavra muito genérica para o tema, e como as traduções de C.G. Jung em português usam “sincronicidade”, peço permissão para continuar utilizando esta palavra, que está sendo consagrada por seu uso.

Gostaria muito de reproduzir as interessantíssimas histórias dos leitores, e talvez o faça mais adiante - mas hoje quero dividir alguns dos (muitos) fatos que já aconteceram comigo:

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Eu acabara de escrever “As Valkírias”, e estava no aeroporto de Brasília, esperando a hora de embarcar; para distrair-me, comecei a imaginar que capa deveria colocar neste novo trabalho.
O avião atrasou, comecei a passear pelo saguão, e descobri uma pequena galeria de arte no segundo andar, onde vi um quadro do Arcanjo Miguel, tema central do livro. Bastou ler a assinatura da pintora – Walkiria – para decidir que aquele quadro seria a capa.
As coincidências não param aí. “As Valkírias” foi publicado no dia 3 de agosto de 1992. Na semana seguinte, meu editor recebeu uma carta da pintora:
“Faz exatamente um ano – 3 de agosto de 1991 – que terminei uma restauração numa igreja de Goiás. Fiz sem cobrar nada, apenas por amor. Neste dia, o padre me chamou e disse:” Deus encontrará uma maneira de lhe pagar. Em um ano, um trabalho seu será muito “conhecido”.
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No coquetel de abertura do Festival de Escritores de Melbourne em 1993, na Austrália, eu me sentia bastante deslocado. Era a primeira vez que participava de um evento literário fora do meu país; não conhecia ninguém, e resolvi ficar olhando uma parede com pôsteres com capas de livros dos escritores presentes. Ao lado da capa de “The Alchemist” (O Alquimista) estava outra bela capa, e me deu uma imensa vontade de conhecer o autor daquele livro.
Outro convidado aproximou-se. Também se sentia deslocado, e aproveitou para puxar conversa comigo; sem saber que eu era, começou a elogiar longamente o cartaz com capa do meu livro. Meio encabulado, e querendo manter a conversa, perguntei se ele havia notado a outra bela capa que estava ao lado.
“Obrigado”, respondeu ele. “Sou o autor deste livro”. Rimos muito da “coincidência”, quando também me identifiquei como o autor do livro cuja capa ele havia elogiado.

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Eu sabia que o músico e compositor Wagner Tyso estava em Madri, queria me encontrar com ele, mas parecia impossível. Eu deixava recado na secretária eletrônica, ele deixava recado no meu hotel, e nunca conseguíamos nos falar.
Um belo dia, precisei ir a França de carro. Na volta, cansado de dirigir durante mais de 8 horas, parei num bar perdido na estrada, no meio de lugar nenhum. Quando entrei para tomar um café, quem estava lá, também tomando um café, também parando para descansar um pouco? Vocês adivinharam: Wagner Tyso!

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