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Mais do mesmo, mais uma vez

Afonso Verner

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Quem presta alguma atenção em notícias já deve ter percebido isso faz tempo: o noticiário é cíclico e sazonal - ou seja, as notícias se repetem de tempos em tempos, mesmo que isso possa parecer irônico, num primeiro momento.

É perfeitamente isso o que acontece durante o feriadão de Carnaval: os meios de comunicação se preocupam com o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo (e suas beldades, é claro), além de dar uma justa cota de atenção aos carnavais regionais.

Bom seria se a cobertura da mídia, como um todo, pudesse dedicar atenção apenas ao lado alegre da festança. Mas como a vida não é feita só de rosas, as tristes estatísticas de mortes que sujam estradas de sangue, todo o santo ano, continuam engrossando o caldo durante o feriado de Carnaval.

Em 2014 não foi diferente: se minha memória não falha, onze pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito na região dos Campos Gerais. Em todo o Paraná seriam 19 mortes - 7 a mais do que o número de vítimas fatais em 2013. Se fossem só números, a história já seria triste - mas essas mortes representam dor, vidas perdidas e famílias destruídas.

Há pouco mais de dois meses tive que lidar com uma pessoa que se foi - também vítima da violência das rodovias. Isso me trouxe duas coisas: colocou à prova minha objetividade como repórter e me fez sentir, bem de perto, a dor e a revolta que uma morte violenta trazem.

Dito isso, a situação passa para a esfera da discussão política: mesmo que tentem me demover da ideia, eu insisto. Todo santo ano a burocracia do estado nos tira vidas e mais vidas. É óbvio que as mortes nas rodovias tem uma boa dose de irresponsabilidade dos motoristas, falta de manutenção dos veículos e mais meia dúzia de motivos.

No entanto, pagar um pedágio caro e usar uma rodovia perigosa e que, na maioria dos trechos, não é duplicada, se torna um fato quase incompreensível. Ontem (05/05), presenciei a morte de seis pessoas na BR-376 (Ponta Grossa - Apucarana). Essa mesma rodovia já havia sido palco para morte de três pessoas da mesma família no final de 2013.

O leitor mais atento já deve ter se lembrado de que esse mesmo trecho da BR é alvo de um festivo (e tão afamado) processo de duplicação. Se for perspicaz mesmo, o caro leitor vai lembrar que cerca de R$ 1,2 bilhão serão investidos na obra. Ótimo, não?.

Mas se você, caro leitor, for atento e perspicaz ao mesmo tempo, vai se lembrar que essa obra tem 'previsão' de entrega em 2021! (uso previsão entre aspas simples porque no Brasil temos problema com prazos). Levando em conta a média de mortes nas rodovias e, principalmente, no trecho entre Ponta Grossa - Apuracana, não fica difícil perceber que deveremos perder muitas vidas até 2021.

Dito isso, sem confete ou purpurina, ainda veremos muitas notícias sobre o fluxo de veículos durante o feriadão de Carnaval, os cuidados que o motorista deve tomar. Além de relatos noticiosos sobre o carnaval do Rio, de SP e até mesmo da Vicente Machado.

Mas nosso noticiário ainda terá, durante alguns anos, notícias de mortes e mais mortes em estradas (mais do mesmo, como sempre diz meu pai). Esse é o preço da burocracia estatal (e privada), aditivada por uma boa dose de imprudência dos condutores e mais vários e vários motivos.

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